Li uma notícia no Público sobre o risco de fecho da casa "ginginha sem
rival" nas Portas de Santo Antão em Lisboa. Passo por esse local todos os
dias e vejo sempre com muitos turistas. É mais um caso para acrescentar à
polémica sobre o futuro de Lisboa. Tem havido muita construção de hoteis de luxo na Baixa, com o despejo de lojas antigas desses edifícios. Se por um lado
vejo que essas obras reabilitam edifícios que estavam muito degradados, por
outro lado desaparecem algumas lojas tradicionais que não existem em mais lado
nenhum. E muitas vão sendo substituídas por lojas de "souvenirs"
baratos que não ficam nada bonitas.
Espero que estejam a fazer contas ao número de hoteis que surgem e o que os
turistas irão ver da cidade. Se a Baixa ficar toda bonita e cheia de hoteis, o
que haverá para ver sem ser as lojas que existem em todos os países. Os
turistas vêm ver o que é diferente, os cafés e restaurantes com comida
portuguesa, as retrosarias, as lojas de vinhos e conservas (são lindas!) e a
vida quotidiana dos lisboetas.
Na minha opinião, as ruas deveriam ser pensadas em todas as vertentes. Os
hoteis são necessários, mas também as lojas que são parte da cultura. Há também
lojas completamente obsoletas e que se arrastam.
Corremos o risco de ver ruas tão caras e de luxo que não há onde almoçar
fora ou comprar produtos de mercearia. Quem morar no centro terá de saír para
os arredores para ir às compras?
Outro aspecto que não anda longe desta polémica é o tipo de pavimento a
usar na cidade. A calçada tradicional é linda, mas estando degradada é um risco
para uma queda e há muitos casos. Já vi como ficou a rua da Vitória com um
pavimento de pedra grande que ficou mesmo liso e excelente para quem anda de
sapatos altos. Promete aumentar a discussão.
Vivemos numa época em que felizmente Lisboa está nos roteiros e melhores
destinos internacionais. Vamos acarinhar isso e pensar com cabeça sobre o
futuro da cidade. Temos que nos virar para o turismo cultural e gastronómico,
porque infelizmente o turismo de sol e praia cada vez vai ser mais complicado
com as praias a ficarem sem areia.
Desenho: Um dos sinos da Igreja de São Nicolau, na esquina da rua dos Douradores com a rua da Vitória, em Lisboa.