Outro dia tive um pouco mais de tempo no caminho para o trabalho e consegui desenhar rapidamente o cenário de uma escavação no antigo convento Corpus Christi, na Baixa de Lisboa.
Impressiona ver duas caveiras à espreita no chão de terra, com uma delas mesmo de frente para mim. Muitas ossadas misturadas que ficaram em entulho da época do Terramoto de 1755 e de toda a destruição causada.
Antes todos eram enterrados nas igrejas, prática que só foi alterada no século XIX com a obrigação de criar cemitérios ao lado das igrejas como medida de higiene. Grande polémica na altura com os familiares a quererem manter a tradição dos enterros nas igrejas.
Por vezes encontro a equipa que lidera a escavação e aprendo algumas coisas numa troca de impressões. Quando lhes perguntei se não lhes faz impressão mexer em ossadas, respondem que é mais difiícil quando encontram objectos pessoais como roupa ou sapatos. Mas mantendo a concentração científica no trabalho, a pesquisa sobre como viviam os nossos antepassados continua. E vou passando diariamente a acompanhar os trabalhos.
2 comentários:
Uma visão privilegiada para estas actividades.
Normalmente no desenho fazemos como que uma arqueologia preventiva, ou seja, muitas vezes desenhamos um local que acaba por se transformar mais tarde e ficamos com o registo de como era antes.
Tenho um caso de um edifício todo degradado na rua do Telhal que desenhei no verão passado e que já vi que está com andaimes e em reabilitação. Provavelmente irei desenhar depois de pronto e verificar as transformações ocorridas.
O registo anterior fica nos cadernos.
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